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Contos Virtuais: quem ganhou e quem perdeu no Race At Home

Foto: Daimler

A Fórmula E anunciou que a 6ª temporada recomeçará em agosto com seis corridas em Berlim, a categoria vivia sob a expectativa desse anúncio, já que outras tantas anunciaram seus planos de retomada. 

Enquanto não era possível competir no mundo real por causa da pandemia do COVID-19, a Fórmula E organizou o Race At Home, um campeonato virtual que, além de contar com a participação de seus pilotos oficiais, também permitiu que pilotos de simuladores competissem em uma categoria à parte, disputando a chance de pilotar um Gen2 real quando a temporada recomeçasse.

O lado social não ficou de fora, dessa vez a parceria foi com UNICEF, o Fundo das Nações Unidas para a Infância. O objetivo era arrecadar doações para ajudar crianças carentes vítimas da pandemia do coronavírus. 

Aqui no Boletim do Paddock, você acompanhou os principais momentos de cada etapa, agora vamos fazer uma análise um pouco mais aprofundada sobre os principais atores dessa competição.

KEVIN SIGGY

KEVIN SIGGY – tahitri.si

Campeão do Race At Home na categoria Desafiantes, o esloveno de 21 anos já tem experiência em campeonatos virtuais. Ele venceu o McLaren Shadow, competição organizada pela McLaren em 2019. Na Fórmula E, Siggy pilotou pela BMW e disse que muito do seu desempenho se deve a Max Guenther, com quem treinava constantemente. O jovem piloto já avisou que não vê a hora de pular no Gen2 e espera que as paredes do circuito não sejam tão próximas, por uma questão de confiança. Não dá pra julgar, né? Eu, no lugar dele, ia querer Tempelhof antes de a pista ser montada. 

CHARLIE MARTIN

GoCharlieM

Britânica, 38 anos, Charlie se preparava para disputar as 24 horas de Le Mans quando o mundo virou de ponta-cabeça por causa da pandemia do coronavírus, ela seria a primeira transgênero a fazer isso. Martin ganhou visibilidade no Race At Home e a usa para levantar a bandeira LGBTQI+ promovendo conscientização e aceitação da comunidade. A história de Charlie não é nada convencional, ela nunca pilotou karts e aprendeu a correr usando vídeo games. Com o lema “sua montanha está esperando, então pegue a estrada”, a piloto busca criar um ambiente de maior aceitação para a para toda a sua comunidade. É isso aí, GO CHARLIE!

STOFFEL VANDOORNE

O grande campeão do Race At Home teve uma campanha muito positiva no desafio, apenas de bater na trave algumas vezes, Vandoorne conquistou sua única vitória no timing perfeito. O segredo do campeonato? Constância. O belga foi pole position quatro vezes e sempre esteve entre os primeiros colocados durante as corridas. Os bons resultados de Vandoorne também ajudaram a Mercedes a conquistar o título de vencedora entre as equipes. Pois é, até no campeonato virtual da Fórmula E a equipe alemã é campeã com time e piloto. Será que vai ser assim também no campeonato real? Como está sua corrente de oração. 

PASCAL WEHRLEIN

PASCAL WEHRLEIN

Pascal Wehrlein venceu três das oito provas disputadas no campeonato. Um desempenho impressionante para quem só começou a competir na segunda etapa. Ficou com o vice-campeonato. Dias antes da final do Race At Home, participei de uma coletiva virtual da Fórmula E e perguntei a Pascal se ele imaginava que sua primeira vitória na categoria seria virtual e como ele se sentia. Wehrlein respondeu de imediato “Dói de verdade”. Entre algumas risadas, ele explicou que obviamente preferia ter a festa completa com pódio, champanhe e torcida, mas que estava aproveitando a oportunidade para treinar mais e se preparar melhor para o quando voltasse para as pistas. Agora resta saber quando, pouco depois do fim do Race At Home, Wehrlein anunciou que não pilotaria mais pela Mahindra. Boatos dão conta de que o alemão estaria a caminho da Porsche, possivelmente no lugar de Neel Jani. 

Equipe alemã com dois pilotos alemães? Aguardemos.

MAX GUENTHER

Falando em alemães, Max Guenther começou o Race At Home com tudo. Venceu as três primeiras etapas (incluindo a primeira, de teste), sendo parado justamente por Wehrlein. Com a ascensão do compatriota e alguns problemas durantes as provas, como rodadas e batidas, Guenther perdeu rendimento, mas manteve o foco. Terminou em terceiro lugar no geral, mas deixou uma ótima impressão em todos. Jovem, comprometido, esforçado, Guenther tratou o campeonato virtual como um desafio real, mostrando porque se tornou tão grande na BMW no período pré-pandemia. 

DANIEL ABT

Talvez o maior perdedor da temporada, Daniel Abt foi “vítima” das próprias escolhas. Você deve ter ouvido falar que o piloto da Audi colocou um piloto dos Desafiantes para competir em seu lugar na quinta etapa da competição. Abt, que até então não havia pontuado, conseguiu um terceiro lugar quando foi substituído. A farsa foi descoberta horas depois do fim da prova, Daniel foi desclassificado e teve que pagar uma multa de 10 mil euros (convertidas em doação a uma instituição de caridade). A Audi anunciou dias depois que havia suspendido o piloto e ele gravou um vídeo se desculpando, afirmando que tentou apenas fazer uma pegadinha, pois jamais trapacearia em um evento de caridade. O vídeo também confirmou sua demissão imediata da equipe. 

A atitude de Abt foi o extremo do maior ponto negativo da competição e deixou uma crise que teve que ser gerenciada pela Fórmula E. Desde a etapa teste, inúmeros espectadores apontavam a falta de comprometimento dos pilotos. As largadas caóticas e acidentes desnecessários eram os principais indicadores de que alguns deles não estavam levando a competição tão a sério quanto deveriam. Isso quando eles mesmos não diziam que se dedicavam pouco ao simulador. Uma pena. Uma verdadeira mancha no espetáculo.

OLIVER TURVEY | MA QUING HUA | NEEL JANI 

Dos três pilotos citados nesse tópico, os dois últimos possuem desempenho extremamente questionado na competição real. Turvey aparenta receber mais confiança da Nio que seu companheiro de equipe, Ma Quing Hua, mas ambos tiveram uma ótima oportunidade de se mostrarem competitivos em situação de igualdade com os demais pilotos. Sim, vocês lembram que a Nio, equipe dos dois, deixa muito a desejar nas corridas reais. Turvey mais uma vez levou a melhor e ganhou de seu colega por 23 x 2, mas Ma teve bons momentos durante a competição, inclusive chegando à frente de Turvey.

Neel Jani também aproveitou como pôde a oportunidade de mostrar um pouco mais suas habilidades. O suíço conseguiu inclusive chegar ao pódio em um das etapas, marcou 35 pontos no total, 17 a mais que Andre Lotterer, seu companheiro de equipe e estrela da Porsche. Provavelmente os resultados de Jani não foram suficientes, já que alguns jornalistas dão como certa a chegada de Pascal Wehrlein à equipe, mais provavelmente ainda no lugar de Jani. Mas Neel deve ter aproveitado, é o que lhe resta. 

FELIPE MASSA | LUCAS DI GRASSI

FELIPE MASSA | LUCAS DI GRASSI

Os brasileiros não tiveram os melhores desempenhos na competição. Lucas di Grassi estava entre aqueles que assumidamente pouco se dedicavam ao Desafio, já que estava envolvido em outros projetos, como o desenvolvimento de equipamentos que para auxiliar no combate ao coronavírus. Com a competição no formato Battle Royale, di Grassi sempre esteve entre os primeiros eliminados e em uma das etapas nem ao menos largou por causa de problemas na conexão. Terminou o campeonato em 20º sem marcar nenhum ponto. 

Felipe Massa teve sorte um pouco melhor, apesar de um início complicado, evoluiu durante a competição e marcou pontos em 3 corridas. Entre os vídeos fofos de treino na companhia de seu filho Felipinho e as tentativas de sobreviver aos embates durante as corrida, seu resultado final foi o 15º lugar e 18 pontos na tabela. 

FÓRMULA E 

Foto: Daimler

A iniciativa da Fórmula E de promover um campeonato virtual demorou um pouco para ser concretizada, com diversas categorias anunciando suas competições, fãs começaram a cobrar que os carros elétricos também fossem para as pistas virtuais. Após o anúncio, foi possível entender porque o time comandado por Alejandro Agag demorou um pouco para colocar o bloco na rua. A participação de pilotos de simulador que a princípio eram convidados e a parceria com o UNICEF davam dimensão ao tamanho do evento que estava prestes a estrear. 

Com os pilotos espalhados pelo mundo, o desafio logístico também precisou ser vencido. Nem todos os pilotos tinham o equipamento adequado no início da competição, alguns deles nem participaram da etapa teste. O grid só ficou completo mesmo após a chegada de Sam Bird na terceira rodada. Mas no fim, todos estavam lá. Pelo menos até a saída de Daniel Abt. 

A falta de colaboração de alguns foi um desafio a mais para a Fórmula E gerenciar. Em uma das entrevistas coletivas, Hannah Brown, diretora de estratégia e desenvolvimento de negócios da Fórmula E, relatou que precisou de muita ajuda das equipes para engajar os pilotos na competição. A crise gerada por Daniel Abt foi tratada com bastante maturidade pela categoria que não escondeu o ocorrido, mas também inflamou opiniões a favor ou contra a decisão da Audi. O baixo nível de comprometimento dos pilotos provocou uma perda de público ao longo da competição e afetou inclusive um dos principais pilares de todo o evento: a parceria com o UNICEF. A meta de £ 100 mil foi batida, mas quase metade das doações veio da própria Fórmula E, provavelmente o resultado tivesse melhor se os pilotos vestissem a camisa como deveriam.

A interação com público também teve bastante destaque na competição, desde coisas simples como realizar um Predictor exclusivo para o campeonato até as grandes ações como permitir que qualquer pessoa participasse do evento na categoria Desafiantes e realizar um concurso para a escolha do troféu do campeão.

Apesar de todos os contratempos, o saldo do desafio é positivo. A Fórmula E conseguiu atingir seus principais objetivos e os pilotos mais dedicados ao evento ficaram com as primeiras posições. Celebremos, então, o esforço de todos aqueles que se verdadeiramente se dedicaram ao evento. Fica o aprendizado para as próximas ações similares a essa e agora nos resta torcer pela volta do campeonato na Alemanha.

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