Fórmula E

Contos chilenos: o melhor e o pior de Santiago

O literalmente quentíssimo ePrix de Santiago nos trouxe uma corrida incrível que só foi decidida na última volta. Lances polêmicos e disputas acirradas foram o principal tempero de uma etapa que sempre trouxe grandes emoções para a ABB FIA Fórmula E.

Se para nós, espectadores, foi um espetáculo, para pilotos e equipes foi uma prova difícil, praticamente todos os times enfrentaram dificuldades para conseguirem bons resultados, não só pelo calor do verão chileno, mas principalmente pelas inúmeras batalhas acontecidas no Parque O’Higgins.

Descrevo aqui os principais destaques desta etapa emocionante, acompanha aí e me diz se você concorda comigo:

Nio

Mais uma vez a Nio deu sinais de uma possível recuperação. O ensaio de um bom desempenho veio com Oliver Turvey que foi para Super Pole e largou em 5º. O ritmo de corrida ainda deixa a desejar, a equipe chinesa corre com o powertrain da temporada passada, e por conta disso, Turvey perdeu posições durante a prova. Dessa vez ele ainda conseguiu ficar a uma posição da zona de pontuação e a Nio segue zerada no campeonato.

Se Oliver Turvey briga com a confiabilidade do carro, Ma Qing Hua segue aprontando das suas. O chinês conseguiu ser punido duas vezes no Chile, uma por usar mais energia que o permitido e outra por não utilizar o Modo Ataque – que é obrigatório. No total, foram 50 segundos de punição acrescidos ao tempo final de Ma, penúltimo lugar entre os que completaram a corrida, isso porque Oliver Rowland da Nissan ficou 4 voltas atrás do líder.

O ano novo chinês tá começando agora, tá na hora de todo mundo dizer pra Nio e pro Ma que a temporada 6 já começou!

Dragon

Você sabia que a Dragon disputou a etapa de Santiago? Então, pois foi! A equipe americana ainda não despontou. Se antes o nome da equipe sempre aparecia durante as corridas por causa das peripécias de José Maria Lopez, agora nem isso acontece. Brendon Hartley sequer terminou a prova – teve que abandonar por problemas na suspensão.

Nico Müller teve um pouco mais de sorte e chegou em 12º após largar em 19º. O piloto holandês ainda se envolveu em uma confusão ao ser ultrapassado por Oliver Rowland (Nissan) na disputa pelo 15º lugar, os dois chegaram a se tocar e Nico caiu para 19º após ter que parar o carro na pista para não bater em Sam Bird (Virgin) que rodou devido ao mesmo incidente.

Zero pontos para a Dragon e penúltimo lugar na tabela de construtores.

Mahindra

Uma montanha russa pode definir o fim de semana da Mahindra, a equipe liderada por Dillbagh Gill beliscou um pódio com Pascal Wehrlein largando em 3º, mas na parte final da corrida, o alemão acabou cedendo e chegou em 4º.

Jerome D’Ambrosio largou da 20ª posição, teve problemas no carro e abandonou a prova. O belga já tinha tido problemas durante o quali e por isso largou lá de trás. Uma etapa para esquecer. E desgraça pouca é bobagem, né? Jerome ainda foi punido por ter usado muita energia durante o regen e teve um Stop & Go transformado em 30 segundos de acréscimo ao seu tempo final.

Gill deve se focar nos 12 pontos conquistados por Wehrlein, graças a eles, agora a Mahindra tem 14. Não tá fácil.

Porsche

Não tá fácil mesmo, a Porsche que o diga! Eu poderia simplesmente resumir a corrida da Porsche como “os dois pilotos abandonaram” e fim. Neel Jani deu adeus à prova logo no início. O piloto do carro 18 conseguiu um 12º lugar na largada e na primeira volta se viu envolvido em uma disputa por posição no hairpin com mais 5 carros, entre eles, Andre Lotterer, seu companheiro de equipe. O resultado da brincadeira foi uma quebra de suspensão para Jani, ele foi para os boxes e ainda conseguiu retornar à pista, mas parou de vez poucas voltas depois.

Lotterer andou duas voltas a mais que Neel. Largou exatamente atrás do companheiro e, no 3º giro, o alemão acabou tocando na BMW de Alexander Sims e danificou seu Porsche. Parada nos boxes e fim de prova para Andre, não sem antes exceder a energia máxima permitida sem o uso de Fanboost ou Modo Ataque (200 kW) e ser desclassificado da prova.

A Porsche deve estar fingindo que nunca esteve em Santiago.

Venturi

O fim de semana da Venturi começou bem, Felipe Massa foi para a Super Pole, largando em 4º e Mortara em 7º. Os dois faziam uma boa corrida, com Felipe mantendo o ritmo e sua posições e Edoardo subindo na tabela. Isso até o 18º minuto da prova, quando Mortara tentou uma ultrapassagem kamikaze em cima de Massa no hairpin. O suíço usou a linha de dentro deixada pelo companheiro de equipe e freou no último minuto, impedindo que Massa completasse a curva como deveria. Felipe deu um leve toque no muro e caiu para o 7º lugar.

No fim, Massa chegou em 9º e Mortara abandonou com problemas no carro. A conversa pós-corrida no escritório da Venturi deve ter sido bem animada.

Nissan

A Nissan e.Dams foi outra equipe que não deve ter boas lembranças de Santiago. Sebastien Buemi até foi para a Super Pole e largou em sexto, mas acabou fazendo uma corrida super discreta – para dizer o mínimo – e chegou em 7º, mas foi punido pelo mesmo motivo de Jerome D’Ambrosio e terminou em 13º. Buemi ainda não pontuou nesta temporada, tá difícil, viu?

Oliver Rowland largou da penúltima posição após ter problemas no quali. O britânico conseguiu escalar bem o pelotão até fazer uma bagunça no hairpin ao tentar ultrapassar Nico Müller e tentar pegar a 15ª posição. Rowland passou por Müller, bateu em Abt que fez Bird rodar e ficar atravessado na pista. Momentos depois, asa dianteira do carro de Oliver voou, como resultado do acidente. Ele parou para trocar o bico do seu Nissan e voltou para a pista, chegou em último com 4 voltas de atraso. Rowland ainda fez a volta mais rápida da prova, 1:06.405, e estabeleceu um novo recorde, mas ficou sem o ponto extra porque terminou apenas em 17º.

Dizer mais o que?

Techeetah

Se não tá fácil pra ninguém, para Jean-Eric Vergne as coisas estão ainda piores. O atual bicampeão da Fórmula E ficou mais uma vez pelo meio do caminho, abandonando pela segunda vez em 3 provas realizadas nesta temporada. Um prejuízo enorme para a Techeetah. Com 13 minutos de corrida, o francês forçou uma ultrapassagem em cima de Stoffel Vandoorne (Mercedes) no hairpin, os dois carros se tocaram e Vergne saiu com um leve dano na proteção do pneu esquerdo.

O dano aparentava ser leve até os 11 minutos finais na prova, JEV escalou o pelotão com seu companheiro logo atrás o tempo todo, os dois ocupavam, respectivamente, terceiro e quarto lugares. A proteção que estava frouxa no carro do francês começou a encostar no pneu, soltando uma imensa fumaça branca na pista. Apesar do problema, Vergne não diminuiu o ritmo, arriscando a corrida dos dois carros da equipe. Da Costa tentava a todo custo ultrapassar o companheiro de equipe, só conseguiu fazer a manobra uma volta depois. Vergne ainda tentou retirar a peça batendo o carro no muro, mas ela só saiu completamente na volta seguinte. Faltando 7 minutos para o fim, JEV foi obrigado a parar e trocar o bico, mas decidiu abandonar.

Da Costa manteve um ritmo forte após passar pelo companheiro de equipe e chegou a assumir a liderança da prova, mas foi ultrapassado novamente por Max Guenther e ficou com o segundo lugar. O português ainda se envolveu em outra polêmica, segundo ele, a equipe não lhe passou as informações corretas sobre o desempenho da bateria e ele foi obrigado a diminuir ritmo e ceder a vitória para completar a prova.

Dezoito pontos para a Techeetah que ainda precisar remar um bocado se quiser manter o cinturão de campeão.

Jaguar

Mitch Evans surpreendeu no quali e foi o mais rápido tanto na fase de grupos (ganhando um pontinho extra) quanto na Super Pole (1:04.941). O neozelandês liderou quase metade da prova, mas foi ultrapassado por Max Guenther na reta-curva do parque O’Higgins. Evans ainda seguiu o alemão de perto mas no final da prova acabou cedendo a posição para António Félix da Costa. Um terceiro lugar meio amargo para Mitch que tentou ao máximo disfarçar seu descontentamento no pódio.

James Calado fez mais uma corrida de recuperação. O novato saiu de 18º e ganhou 10 posições até a bandeirada final. Até agora vem cumprindo seu papel de somar pontos para a Jaguar, só precisa melhorar seu desempenho na classificação.

Como eu costumo dizer, essa é uma equipe para ficar de olho. A Jaguar ainda deve ter bons resultados esse ano.

Audi

Lucas di Grassi foi um dos grandes nomes dessa etapa, o brasileiro saiu da 22ª posição para chegar em 7º, conseguiu evitar os acidentes que apareceram pelo caminho e marcar pontos preciosos para a Audi. O próprio piloto classificou o resultado como “uma vitória”, realmente deve ter sido, já que di Grassi já mostrou várias vezes que não se contenta com pouco.

Daniel Abt não conseguiu uma corrida tão limpa assim, o alemão foi pego de surpresa por Oliver Rowland e não conseguiu evoluir durante a corrida. Chegou em 14º, uma posição abaixo da de largada. Abt ainda se envolveu em um acidente com Felipe Massa, que não foi mostrado durante a prova, mas o brasileiro reclamou bastante da conduta do alemão.

Audi jogando no nível hard. Alguém surpreso?

Virgin

A Virgin chegou a Santiago com uma “confiança controlada”. A equipe vinha de uma vitória na primeira corrida da Arábia e foi a vencedora da etapa chilena no ano passado. Ainda bem que o time britânico estava com os pés no chão porque o resultado dessa etapa foi de derrubar qualquer expectativa.

Robin Frijns teve uma performance condizente com o seu (mau) humor do fim de semana, largada em 21º, chegada em 13º. O holandês estava para poucos amigos em Santiago. Será que foi o calor?

Já Sam Bird largou em 16º e chegou em 10º, poderia até ter se saído melhor se não tivesse rodado na pista por causa da trapalhada de Oliver Rowland, mas teve que se contentar com o pontinho conseguido depois da aplicação de todas as punições depois do fim da prova.

Mercedes

Nyck de Vries e Stoffel Vandoorne mantiveram a constância na terceira etapa desta temporada, os dois largaram em oitavo e nono para chegar em quinto e sexto, respectivamente em ambos os casos. Os dois chegaram a cair para baixo da 10ª posição, mas conseguiram se recuperar. De Vries, na verdade, recebeu a bandeirada em 3º, mas recebeu uma punição de 30 segundos (convertidos de um Stop & Go) por estar com o resfriador da bateria frio demais.

Antes da bandeirada final, a Mercedes era a líder o campeonato e agora está a apenas quatro pontos da líder BMW. Por outro lado, Vandoorne conseguiu outra liderança para a equipe: a do campeonato de pilotos, mesmo sem ter vencido esse ano, Stoffel acumulou 38 pontos em três provas. Nada mal, hein?

A flecha de prata elétrica, foi a equipe que mais se aproximou de um desempenho satisfatório com os dois carros. Para quem está na corrente contra a dominação da Mercedes na Fórmula E, é hora de aumentar as oferendas para os deuses da velocidade.

BMW

0.275, essa foi a diferença de tempo entre Max Guenther e Mitch Evans na Super Pole, por muito pouco, a BMW não conseguiu sua quarta pole position seguida, mas a equipe américo-alemã mal sabia do que estava prestes a acontecer.

Guenther foi sem dúvidas o maior destaque de Santiago, com duas ultrapassagens arrasadoras sobre Mitch Evans e António Félix da Costa, o alemão conquistou e reconquistou a liderança da corrida. Saber o usar a reta-curva foi uma ótima cartada do jovem piloto, mas conseguir administrar o uso da bateria nos momentos finais da prova acabou sendo o principal trunfo do vencedor mais jovem da curta história da Fórmula E. Desempenho maduro para o piloto mais novo do grid.

Já Alexander Sims teve uma rápida participação de 8 minutos na corrida, o inglês causou uma breve bandeira amarela total por abandonar a prova após uma colisão com Andre Lotterer. Mesmo assim, Sims manteve seus 35 pontos e caiu para o segundo lugar no campeonato. Vamos ver o que as próximas etapas trarão para eles.

Chegada no limite de energia das baterias. Via: Youtube.com/FIAFormulaE

Santiago vai deixar saudades, o contrato da Fórmula E com a cidade chegou ao fim e existem boatos de que ele pode não ser renovado. As conversas afirmam ainda que o Rio de Janeiro é o principal candidato para substituir a etapa chilena e manter a categoria na América do Sul. Vamos aguardar as próximas notícias e ver o desenrolar dessa história.

A Fórmula E volta dia 15 de fevereiro na Cidade do México. Fica ligado no Boletim do Paddock para não perder nem um lance da próxima etapa!

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