No dia 9 de junho, estive na quarta etapa da Porsche Cup em Interlagos.
Cheguei relativamente cedo, vi os carros, as movimentações no grid… e para assistir, me indicaram um bom lugar: atrás do paddock, em um alambrado que dá pra ver todo o “miolo” da pista.
A corrida começou, e claro eu vi a largada de perto e depois fui para o alambrado. Foi então que vi uma cena, esquisita, mas legal:
Um engenheiro que falava com seu piloto na rádio, e ele via o piloto andando aquele trecho, saía correndo, entrava no box e conferia os tempos, depois voltava.
Primeiro, fiquei impressionada com o condicionamento físico, visto que eu tinha subido duas quadras a pé naquele dia pela manhã e já estava morrendo.
Segundo e mais importante: A emoção.
Quando assistimos uma corrida, nós vemos os engenheiros todos sérios, sentados no pit lane ou no box, tranquilíssimos… na TV. O que eu testemunhei, foi a prova de que os engenheiros vivem a corrida tanto quanto os pilotos.
O engenheiro de quem estou falando é Eduardo Bassani, engenheiro do Diego Nunes, da Fulltime Bassani, na Stock Car. Bassani está na Porsche Cup treinando o piloto Enzo Elias, o piloto mais novo da categoria.
Enquanto a corrida acontecia, eu vi Eduardo treinar seu piloto de longe: pediu posições, o acalmou, disse que não era pra ele “ficar puto com o carro”, e ele mesmo ficou bravo porque um piloto deveria ser punido.
A classificação de Enzo na corrida do dia 9 foi a melhor até agora na Porsche (Eduardo me disse isso com brilho nos olhos e muito orgulho).
“Durante a corrida eu sou engenheiro, eu sou psicólogo, eu corro com ele”
E isso me fez entender que a relação entre piloto e engenheiro é muito valiosa.
Quem já ouviu meus podcasts no Fim do Grid, sabe o quanto eu penso no psicológico do piloto, e Eduardo me confirmou no sábado passado que realmente é necessário analisar as condições do piloto para que ele permaneça focado.
Além de entender sobre o piloto, e sobre a corrida, o engenheiro precisa entender o carro, a máquina que tem nas mãos. Em toda transmissão se fala muito da temperatura do asfalto, do ar e etc, e mesmo eu sendo estudante de engenharia, eu só fui entender isso no sábado (Há infinitas coisas que a faculdade não ensina. Ou você vê na vida, ou você não vai saber).
O ajuste do carro depende da temperatura do asfalto, e do ar. Isso acontece por que o ar quanto mais frio, mais denso, o que influencia na pressão atmosférica, que reflete na aerodinâmica do carro.
Entramos neste assunto, pois na Sexta-feira estava frio, e no sábado de manhã também. Misteriosamente, começou a abrir sol, e esquentar o asfalto, ao ponto da temperatura chegar a 23 graus (e claro, eu de cachecol, blusa, e derretendo).
Eduardo também me revelou que o ajuste do carro para classificação é um, e para corrida é outro. Tudo depende do que você precisa para aquele momento: Mais tempo, mais economia de pneus, mais ultrapassagens, manter a posição… Durante as corridas são feitos infinitos cálculos, para escolher a velocidade que o piloto deve manter ou elevar, para que seja feita “a corrida perfeita”.
A conclusão mais clara e expansível ao pensamento do fã de automobilismo, é que o engenheiro, o piloto e seu carro devem estar em sintonia, para que a corrida flua como se espera, e que o engenheiro também sente a corrida, participa daquilo efetivamente. O engenheiro (na minha humilde opinião) é a conexão entre o piloto e seu carro.
Agradecimentos: Eduardo Bassani e Tiago Mendonça
Foto: Luca Bassani