A F1 Academy foi criada com o intuito de ajudar as mulheres a se desenvolver no automobilismo, tentando minimizar o déficit que temos hoje gerado pela falta de apoio e caminhos claros para as mulheres avançarem no esporte.
Porém, a categoria 100% feminina quando foi lançada gerou algumas dúvidas, vou mencionar alguns deles neste texto. A F1 Academy surgiu pouco depois que a W Series tinha comunicado problemas financeiros e precisou encerrar a temporada 2022 antecipadamente.
Com o surgimento da F1 Academy, a categoria foi colocada na posição de um campeonato que vem pouco depois do kart, mas estava abaixo da W Series. Dessa forma as competidoras poderiam fazer uma temporada de F1 Academy e depois competir na outra categoria que também era destinada as mulheres. Estamos em abril, quando a W Series deveria já ter começado a sua temporada e nenhum sinal de que ela retornará por agora.
Os campeonatos de F4 são justamente para isso, preparar os competidores para outras categorias com exigências maiores. Mas neste sentido, um dos degraus mostrou que tinha desabado.
A W Series tinha alguns problemas claros de gerenciamento, mas em nenhum momento a F1 ou a FIA pareceram dispostos a ajudar a categoria para salvá-la. Na realidade, a impressão que temos desde o lançamento da F1 Academy é que eles esperaram a categoria se afundar e criaram algo que até então parecia mais estruturado, por contar com pessoas que estão há mais tempo neste caminho, mas um novo conjunto de falhas está sendo evidenciado.
Cinco equipes, com três pilotas cada é o que compõe a F1 Academy. Ao longo dos últimos meses os times foram confirmando as suas pilotas e diversas competidoras que passaram pela W Series, entraram na F1 Academy pelo talento que já tinham demonstrado. Com essas contratações e tudo o que estava acontecendo ou não, colaboravam com a narrativa que a W Series não retornaria tão cedo.
Para as pilotas, principalmente aquelas que estão começando a carreira e deixaram o kart, é importante participar de campeonatos, estar ativas, pois elas ainda são um número menor de competidoras que estão buscando furar a bolha do automobilismo composta por muitos homens.
O fato da própria F1 não engajar muito com a F1 Academy nas redes sociais já é um ponto de preocupação. Além disso, escolheram montar o calendário da F1 Academy, com apenas uma corrida sendo realizada com a F1 no primeiro ano da competição. Por mais que a W Series tivesse uma estrutura de fim de semana mais simples e com menos atividades de pista, a categoria corrida com a F1 e tinha a opção de mostrar as pilotas para o público e pessoas que estão inseridas no automobilismo.
Por sua vez, para a F1 Academy criaram uma estrutura mais complexa, mais treinos livres, duas classificações, três corridas e como a F1 já divide a pista com a F2 e F3, ficou um pouco mais complicado levar a F1 Academy com eles. As três categorias são gerenciadas por Bruno Michel, que já tem muita experiência com campeonatos de base.
O resultado disso, é que a primeira corrida que será disputada neste sábado (29) na Áustria, não tem até agora uma transmissão confirmada. Também não existe se isso mudará para o restante do Campeonato e como as coisas vão funcionar. A categoria tem orientado ao público acompanhar as corridas e as pilotas pelo livetiming. presente no site. Mas novamente quando mencionamos a W Series, a categoria tinha as transmissões, tinha uma base para exibir as corridas ao público, correu com outras categorias e isso se mostra extremamente necessário, principalmente quando a categoria também tem o intuito de dar visibilidade para as pilotas.
Sem correr com a F1 e sem mostrar as corridas das pilotas, como as competidoras vão conseguir contratos para participar de academias de pilotos, se tornar uma embaixadora de algum time de Fórmula 1, ou fazer algumas outras ações? Sem a transmissão, elas têm menos chance de ter algum reconhecimento e obter bons contratos para as próximas temporadas e oportunidade de correr em outras categorias. Outros campeonatos de base e até mesmo kart têm suas transmissões. Bom, nesse quesito a W Series soube se moldar ao mercado e fazia um papel muito melhor.
Sim, gerar uma transmissão é algo que demanda muito esforço e é caro, esse também é um dos motivos para categorias correrem juntas com outras categorias, assim, custos com aluguel de autódromo, equipamentos para a transmissão e outros podem ser divididos.
Os próprios times e pilotas da base para conseguir patrocínio precisam de visibilidade. Precisam da transmissão ou de um veículo claro que ajude a impulsionar a categoria. Infelizmente o dinheiro é algo que fala muito alto no automobilismo, se você não é visto, não é lembrado. Como a própria F1 Academy e FIA podem esperar um apoio ou dedicação dos times se o único meio de se divulgar são pelas redes sociais, que mais uma vez não tem uma troca com a F1.
Cada post da F1 Academy contém várias mensagens de espectadores demonstrando que querem apoiar a categoria e as pilotas, mas sem a transmissão, ninguém pode fazer muita coisa. Pelo Live Timing você não vê as ultrapassagens claras, são dados e mais dados que só fazem sentido quando também existem imagens de apoio.
É um fato, as transmissões ajudam a tornar a categoria mais inclusiva, mostrar para outras meninas/mulheres que o automobilismo é algo que elas também podem seguir. Se a categoria surgiu justamente para alavancar as mulheres no esporte e contribuir para o seu crescimento, alguns ingredientes são os componentes de uma grande falha.
‘Como vamos inspirar a próxima geração sem visibilidade?’
Outra coisa que entra no questionamento, é que até agora não tem um caminho claro afirmando que a campeã tem uma vaga garantida para correr no grid de outra categoria de base no próximo ano. Nos três anos de W Series, tivemos a mesma campeã pois ela não teve oportunidade nas categorias de base da Fórmula 1. Não existiu uma conversa clara para a importação dos talentos ou se quer aquele discurso de ‘estamos apoiando as mulheres’ foi definido – na realidade, mais uma vez o apoio ficou apenas no papel e em pequenas atitudes.
Se a F1 Academy vai para a frente é difícil dizer, pois até o momento parece que muitos estão se esforçando para que ela dê errado.
Alguns outros pontos foram discutidos com a Rafaela Oliveira no Podcast Punta Talks: