A briga franca entre Mercedes e Ferrari pelo título mundial é indiscutivelmente o tema mais comentado no circo da Fórmula 1 nessa temporada. Todavia, o incrível sucesso alcançado pela Force India, mesmo com um orçamento modesto e diversos problema extra-pista, também merece destaque.
Pouco se esperava de uma equipe que vinha dos cacos da modesta Spyker, e de fato, a primeira temporada dos indianos na categoria foi extremamente complicada. Adrian Sutil e Giancarlo Fisichella lutavam para manter o carro na pista e o chassis atualizado da Spyker definitivamente não os ajudava. Com uma grande mudança de regulamento no horizonte, o foco do time se voltou para 2009 no começo do 2º semestre, fazendo com que a equipe saísse zerada de 2008.
Entretanto, essa temporada frustrante logo seria vista como um ponto fora da curva. Desde 2009, a Force India é uma das equipes mais constantes da Fórmula 1, contando com uma das curvas de evolução mais acentuadas do grid. Enquanto McLaren, Williams e Lotus enfrentavam altos e baixos, os indianos mantinham sua evolução contínua em busca dos ponteiros. Esse sucesso atraiu cada vez mais patrocinadores, tornando o custo-benefício de investir no time baseado em Silverstone cada vez maior.
Mesmo com uma temporada de estréia decepcionante, a equipe começou mostrar sinais de um futuro promissor já no ano seguinte. A mudança de motores Ferrari para Mercedes, o primeiro chassis 100% da casa e a mudança de regulamento proporcionaram uma tempestade perfeita para o sucesso dos indianos em 2009. Além disso, manter a dupla de pilotos, que contava com Adrian Sutil e Giancarlo Fisichella, provou-se crucial, mostrando pela primeira vez a filosofia de evitar pay-drivers em seus cockpits. Já em sua 30ª corrida na categoria, a Force India garantiu sua primeira pole e seu primeiro pódio, graças a pilotagem magistral de Fisichella em Spa. Na etapa seguinte, foi a vez de Sutil garantir um ótimo resultado, largando em 2º e terminando a prova na 4ª posição em Monza. Essa sucessão de triunfos serviu para afastar o rótulo de nanica e cimentar sua posição no meio do pelotão, além de criar a famosa máxima que a “Force India é boa de reta”.
A boa fase se manteve nos anos seguintes, tornando-se presença constante nos pontos entre 2010 e 2013, mesmo com a saída de peças importante no final de 2010, como James Key. Nesse período, a equipe flutuou entre 6ª e 7ª no campeonato de construtores, prezando pela constância para escalar o pelotão, haja vista que os indianos deixaram de pontuar em apenas 4 etapas na temporada de 2012. Além disso, apenas quatro pilotos foram utilizados nesse intervalo de tempo, Adrian Sutil, Vitantonio Luizzi, Paul di Resta e Nico Hulkenberg, atestando a continuidade do trabalho em todas as frentes de atuação da equipe.
O retorno dos V6-turbo em 2014 iniciou uma nova era não só na categoria como também para a Force India. A equipe renovou completamente a dupla de pilotos, recontratando Nico Hulkenberg e trazendo Sérgio Pérez como seu companheiro de equipe. A dupla experiente, aliada à um chassis eficiente e a poderosa unidade motriz da Mercedes proporcionaram outra combinação extremamente bem-sucedida. Além de ser presença constante nos pontos, o mexicano conquistou o primeiro pódio dos indianos desde 2009 em sua 3ª corrida pelo time, enquanto o alemão já era figurinha carimbada no Top 6 de quase todas as etapas. Mais uma vez prezando pela consistência, a Force India deixou de pontuar em apenas duas etapas, Hungria e Estados Unidos, mas nem esses resultados foram suficientes para tirá-la da gangorra entre 6ª e 7ª nos construtores.
O ano seguinte foi um dos mais decisivos na história da equipe e certamente um dos maiores testes de resiliência para os indianos. Devido à uma gravíssima crise financeira, a Force India sequer participou da primeira sessão de testes de pré-temporada, levando o carro de 2014 para a 2ª semana, em Barcelona. Além disso, quando revelado, o monoposto de 2015 era simplesmente uma versão B do bólido utilizado na temporada anterior. A primeira metade da temporada foi modesta, entretanto, as atualizações introduzidas na 2ª metade da temporada permitiram que Nico e Sérgio escalassem ainda mais o pelotão, inclusive colocando o mexicano no pódio do GP da Rússia. Essa recuperação meteórica no 2º semestre foi suficiente para finalmente quebrar a sequência de resultados semelhantes nos construtores, colocando a equipe em 5º pela primeira vez em sua história.
Com a crise superada, 2016 era o cenário perfeito para a equipe deslanchar e estabelecer seu domínio do pelotão intermediário. O aumento do número de patrocinadores em relação ao seu começo na categoria era evidente, e mesmo tendo lidado com uma séria instabilidade financeira, além de ter um comandante envolvido em esquemas de corrupção, a Force India era agora considerada como uma verdadeira potência na briga pelas posições logo abaixo do pódio. Após um começo atribulado, ambos os pilotos foram novamente constantes e eficientes, pilotando um bólido muito bem nascido. Perez conquistou mais dois terceiros lugares e o time terminou 8 das últimas 10 corridas da temporada com os dois carros nos pontos. Se aproveitando da queda de produção da Williams no 2º semestre, a equipe assegurou seu primeiro 4º lugar da história com facilidade.
Entrando em seu 9º ano na categoria, a Force India parece ter encontrado uma fórmula para manter seu sucesso constante. Além do cuidado especial na escolha dos pilotos, a equipe interna também foi delicadamente selecionada nos últimos anos, culminando em um grupo extremamente qualificado, que por sua vez, proporciona essa sucessão de triunfos que torna a equipe um modelo de sucesso na Fórmula 1. Segundo o chefe de operações da equipe, Otmar Szafnauer, “as peças foram colocadas no lugar nos últimos cinco ou seis anos, isso não é algo que acontece da noite para o dia”. Essa presença constante na parte de cima da tabela gera uma atmosfera segura para patrocinadores investirem na equipe, não obstante, o carro da Force India é um dos mais recheados de patrocinadores das mais diversas áreas, enquanto Sauber e McLaren, que vivenciaram triunfos recentemente, batalham para conseguir estampar marcas em suas máquinas.
Em 2017, a equipe vive seu auge, aproveitando mais um ano de estabilidade e consistência para começar a entrar na briga pela 3ª posição nos construtores. Ultrapassar a Red Bull ainda é um cenário otimista, no entanto, o desempenho de seus pilotos no 1º semestre mostra que essa perspectiva não é um sonho, mas sim uma possibilidade viável no futuro próximo, provando que não só as garagistas multimilionárias têm vez na Fórmula 1 atual.