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O Último Ato de Jules Bianchi

Dia 135 dos 365 dias mais importantes do automobilismo

A Mercedes mantinha seu domínio absoluto da temporada enquanto o circo da Fórmula 1 chegava ao templo de Suzuka para a 15ª etapa do ano. A natureza veloz da pista japonesa garantiu a segunda fila para a2s Williams no sábado, mas a chuva torrencial que castigaria o circuito no dia seguinte acabaria levando os dois bólidos brancos para o meio do pelotão. Mal sabíamos nós que infelizmente, essa não seria a única coisa levada pelo dilúvio no dia 5 de Outubro de 2014.

Fonte: McLaren

Muita chuva aguardava os pilotos para largada às 15h no horário local. A água já acumulada na pista aliada à tempestade interminável acabavam com a visibilidade devido ao spray lançado pelos carros em alta velocidade. Apenas 2 voltas após o começo do GP atrás do carro de segurança, a etapa foi interrompida com bandeira vermelha por conta das condições de pista. 20 minutos depois, os carros deixaram os pits e a corrida foi retomada, agora com a situação um pouco mais viável para os pilotos. Pouco a pouco, as flechas de prata voltaram a desaparecer na ponta e as Red Bulls, se valendo da sua vantagem aerodinâmica, começaram a cortar a diferença para as Williams na briga pela terceira posição.

Fonte: F1 Fanatic

Pneus intermediários já calçavam os bólidos na volta 30 e tanto Vettel quanto Ricciardo já tinham superado os carros da equipe de Grove e agora sumiam em busca das Mercedes. Masssa e Bottas se arrastavam pela pista e sofriam para levar o monoposto hidrofóbico da Williams pelas curvas de Suzuka, chegando inclusive a serem superados pela McLaren de Jenson Button, mesmo com uma troca de volante para o inglês no meio do caminho. O sol começava a dar as caras e o spray parecia diminuir até que a chuva voltou a castigar a pista na volta 38, agora ainda mais forte.

As nuvens baixas e o horário avançado devido a suspensão da corrida nas primeiras voltas derrubavam consideravelmente a luz natural ainda disponível, a tempestade prejudicava cada vez mais a visibilidade, inclusive por conta do imenso spray gerado por ela, a situação chegou ao extremo de até as luzes nos volantes estarem ofuscando os pilotos. O cenário beirava o absurdo, a frequência de rádios reclamando sobre a segurança da corrida aumentava cada vez mais e a pressão pela suspensão do GP e seu subsequente cancelamento também se intensificava, uma vez que enxergar carros ou bandeiras a metros de distância passava a ser cada vez mais difícil. O pelotão administrou todas as adversidades no limite, até que na volta 42, tudo começou.

A Sauber de Sutil aquaplanou e colidiu com o muro externo na Dunlop Curve. O alemão saiu sem arranhões do incidente e um trator entrou na área de escape da curva para retirar o monoposto batido. Ao invés de colocar o carro de segurança novamente na pista, duplas bandeiras amarelas foram acionadas no local para advertir o pelotão sobre o perigo a frente. Contudo, as condições prejudicavam a visibilidade de qualquer coisa. Instantes depois, a Marussia de Jules Bianchi aquaplanou na mesma região, transformando o francês em passageiro em um carro incontrolável viajando a 213 quilômetros por hora que só pararia na traseira do trator que retirava o monoposto de Adrian Sutil da pista. A partir desse ponto, esse texto será um relato puramente pessoal.

Fonte: F1 Fanatic

Pouco se sabia sobre o que estava acontecendo, a FOM não mostrou as imagens do incidente por motivos óbvios e o Sutil havia saído sem grandes problemas do incidente. Por algum motivo até então desconhecido, as câmeras constantemente cortavam para os boxes da Marussia e um gráfico com o nome de Jules foi mostrado na área do acidente da Sauber. O clima tenso era palpável no pitlane, a prova foi declarada encerrada, pilotos e chefes de equipe não esboçavam sorrisos, mas sim expressões de preocupação e choque. A cerimônia do pódio foi meramente protocolar e mergulhamos na madrugada sem termos maiores notícias sobre o ocorrido. Aos poucos maiores explicações apareceram, imagens foram postadas, agora sabíamos que o pior havia acontecido.

Para a minha geração, toda as circunstâncias foram novas. Estamos acostumados a ver pilotos saírem andando dos impactos mais cinematográficos. A segurança chegou a um nível tão absurdo que acidentes foram banalizados e passaram a fazer parte do esporte, entretanto, a vida as vezes prega peças em nós, e ela escolheu aquela tarde chuvosa no sul do Japão para nos lembrar que não importa quão moderna e segura a categoria seja, os pilotos que entram em seus bólidos ainda arriscam suas vidas em nome do esporte e do amor pelo automobilismo, assim como os pioneiros Fangio, Chiron, Nuvolari e Ascari. Assistir ao que se passava em Suzuka parecia um pesadelo, algo fora da realidade após tantos anos de confiança inabalável nos avanços tecnológicos que protegiam a vida de quem nos traz as mais diversas emoções aos domingos. Para os que conseguiram, foi extremamente difícil dormir naquela madrugada de Outubro, todavia, mais difícil ainda foi acordar e ter que digerir todas os relatos e notícias que chegavam sobre o estado de saúde do francês durante meses. O desfecho trágico de Jules Bianchi foi um verdadeiro choque para todos nós, uma verdadeira injustiça com um jovem que ainda dava seus primeiros passos na Fórmula 1 mas já era até cotado na Ferrari, e acima de tudo, uma perda irreparável para o mundo do automobilismo. Jules estará sempre em nossos corações.

Fonte: Pierre Gasly

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