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Ferdinand Porsche o pai do Fusca

03 de Setembro, aniversário de Ferdinand Porsche - Dia 105 dos 365 dias dos mais importantes da história do automobilismo

Um homem de seu tempo, e praticamente um gênio do automobilismo, Ferdinand Porsche nasceu em 03 de setembro de 1875 em Maffersdorf, no norte da Bohemia, na época pertencente ao Império Austro-Húngaro (e hoje parte da República Tcheca). Seu pai, Anton, trabalhava como “martelinho de ouro” para as carroças da época, e Ferdinand tinha onze anos quando o primeiro veículo automóvel foi lançado.

C2 Phaeton. Fonte: Flatout

Trabalhando na oficina do pai de dia e cursando uma escola técnica à noite, ao completar 18 anos foi contratado pela companhia Béla Egger, uma empresa de eletricidade de Viena. Porsche sempre teve uma queda pelo tema, sendo ele quem levou a luz elétrica para a casa dos seus pais. Na capital, apesar de nem tentar se matricular em algum curso na universidade, Ferdinand sempre que podia ia lá assistir às aulas de mecânica e engenharia. Tanto que, em 1897, desenvolveu um motor elétrico que no ano seguinte foi utilizado pelo seu novo patrão, a empresa Jakob Lohner & Company para equipar o primeiro projeto de Porsche, o Egger-Lohner, também conhecido pelo nome muito mais maneiro de C.2 Phaeton, que trazia gravado em todas suas partes de madeira o código P1. Em dezembro de 1900 o modelo foi exibido na Feira Mundial de Paris com o nome de Toujours-Contente, fazendo sucesso e começando a formar o nome do austríaco de apenas 25 anos.

Em 1901 foi lançado o Lohner-Porsche Mixte Hybrid, com motor de combustão interna construído pela Daimler que alimentava os motores elétricos de Porsche, tornando-se o primeiro veículo híbrido movido tanto a eletricidade quanto a gasolina. Os Lohner-Porsche fizeram sucesso não apenas como veículo de passeio, mas também como caminhões e carros de bombeiro. O veículo atingia até 56 km/h e chegou a ganhar o rali de Exelberg de 1901, pilotado pelo próprio Ferdinand Porsche, que no ano seguinte serviu o serviço militar obrigatório como motorista do arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria (sorte que nosso herói não seguiu carreira, portanto não estava em Sarajevo uma década mais tarde).

A Austro-Daimler, subsidiária da alemã Daimler, gostou da parceria e recrutou Ferdinand em 1906 para trabalhar como designer chefe. Seu projeto mais famoso foi o modelo 27/80 que venceu o concurso patrocinado pelo príncipe Heirich da Prússia, ficando então conhecido como “Prince Henry”. Sua ascensão lhe rendeu, em 1916, o título de Doutor Engenheiro Honoris Causa, título que mais tarde nomearia sua própria empresa, a Dr. Ing. h.c. F. Porsche. Mas antes disso Porsche ainda estaria por trás de outro grande sucesso.

Contratado em 1923 pela Daimler, Ferdinand mudou-se para Stuttgart, na Alemanha, onde recebeu outro doutorado e foi considerado Professor Honorário. Em 1926 a Daimler fundiu-se à Benz & Cia., dando origem a uma marca conhecida como Mercedes-Benz. Porsche estava lá para produzir os primeiros Mercedes, finalizando com sua obra-prima na empresa, o Mercedes-Benz SSK que dominou as pistas de corrida no final dos anos 20. Mas as ideias de Porsche para a construção de um modelo pequeno, leve e popular não eram bem recebidas pelo conselho da empresa, fazendo com que, em 1931, Ferdinand Porsche resolvesse tentar a própria sorte.

Mercedes SSK. Fonte: Concept Cars

Com o apoio financeiro de seu amigo Anton Piëch e já contando com o auxílio de seu filho Ferdinand “Ferry” Porsche, numa parceria que iria durar por toda a sua vida, o velho Ferdinand começou com um projeto de um carro para a classe média sob encomenda da fabricante Wanderer, criando o lindo W17. Outros projetos seguiram, e a companhia ia bem, mas Porsche queria dar andamento a seu xodó, o carro popular. Ele começou o trabalho penhorando seu próprio seguro de vida para obter um empréstimo, porém ainda não era suficiente. Foi necessário outro austríaco famoso para que Porsche seguisse adiante.

Ferdinand e Ferry Porshe. Fonte: Pinterest

Em 1932 a Auto Union foi fundada, unindo as fábricas da Audi, DKW, Horch e Wanderer. O CEO da nova empresa, Barão Klaus von Oertzen, interessou-se pelo projeto de Porsche. Ao mesmo tempo o chanceler da Alemanha, Adolf Hitler, anunciou no Berlin Motor Show que o país deveria se motorizar, e cada alemão deveria possuir um carro ou trator para chamar de seu. O governo alemão chamou a Mercedes-Benz para tocar o projeto, que foi terceirizado para Ferdinand, que já estava trabalhando em algo assim.

E, desta maneira, Porsche começou a trabalhar para os nazistas. Sim, precisamos tirar este elefante (e os tigres) da sala: Ferdinand Porsche cooperou, dentro de sua área de atuação, com o regime nacional socialista da Alemanha, inclusive filiando-se ao partido e à Schutzstaffel e abrindo mão de sua cidadania para se tornar um alemão. Não há como julgá-lo, uma vez que estava inserido neste meio e nunca ficou claro até que ponto ele compactuava com os ideais racistas do nazismo; ele sempre foi pragmático, tinha um sonho e o governo da Alemanha do final dos anos 30 podia ajudar a realizá-lo. Isto não diminui seu nome e seu legado para os cabeças de gasolina, mas certamente é uma mancha em sua biografia.

Tatra v570. Realmente parecido com o Besouro. Fonte: Wikipedia

Retornando, em junho de 1934 Hitler reuniu-se com Porsche para tratar do “carro do povo” ou, em alemão, Volkswagen. Ferdinand já tinha o projeto adiantado, e completou seus primeiros dois protótipos em 1935 (eles eram bastante “inspirados” no Tatra V570, e a empresa tcheca entrou com um processo de patentes que foi arquivado após a Volkswagen pagar uma multa em 1952). Uma cidade foi fundada para sediar a fábrica, recebendo o nome de Stadt des KdF-Wagens. Claro que esse nome de empresa não pegou, e logo os locais passaram a chama-la de Wolfsburg. Os fuscas nasceram lá, onde até hoje está localizada a sede da Volkswagen.

Porsche também convenceu o chanceler de que seria uma glória da Alemanha ter os carros mais rápidos do planeta, e ajudou o piloto Hans Stuck a montar o plano de dividir o orçamento destinado às corridas entre a Auto Union e a Mercedes – as duas marcas que dominaram as pistas até o início da guerra. Hans homenageou Porsche dando o nome de Ferdinand a seu terceiro filho (o mais velho, Hans-Joachim, participou de 81 provas da Fórmula 1 na década de 70, correndo pela March, Brabham e Shadow).

Durante a guerra Porsche deixou de lado os carros de passeio e ajudou a projetar os tanques Elephant e Tiger – os chassis projetados por Porsche para este último foram aproveitados nas máquinas antitanque nomeadas como Panzerjäger Tiger, porém apelidadas pelos soldados como “Ferdinand”.

Erwin Komenda, Ferry e Ferdinand Porsche ao lado de um modelo 356. Fonte: Flatout
Erwin Komenda, Ferry e Ferdinand Porsche ao lado de um modelo 356. Fonte: Flatout

Em novembro de 1945, após o final da guerra, Porsche foi convidado pelos aliados para continuar a trabalhar na Volkswagen na França, mudando sua fábrica para lá, como forma de reparação. Após a pressão da indústria automobilística francesa, preocupada com a concorrência, o convite foi retirado e Porsche, Anton Piëch e Ferry foram presos como criminosos de guerra. O Ferdinand mais novo foi solto seis meses após, e retornou para o trabalho para tentar conseguir dinheiro e pagar a fiança do pai e do padrinho. Ele projetou um carro de corridas nomeado como Type 360 Cisitalia que, apesar de nunca ter entrado em competições, lhe rendeu o dinheiro necessário para libertar Porsche, 20 meses após sua prisão. Nesta época também começou a nascer o primeiro carro a ter a marca Porsche, o icônico 356. A venda deste modelo sustentou a família nos primeiros anos pós-guerra, quando nenhum banco queria saber de fazer negócios com os Porsche.

Em 1949 Ferdinand foi recontratado pela Volkswagen como consultor, e recebeu como pagamento um percentual de cada unidade do modelo Type I vendido. Este modelo recebeu o apelido de Beetle (ou, aqui em terra brasilis, de Fusca), então podemos imaginar que a família começou a não mais ter problemas financeiros.

Em dezembro de 1950 Ferdinand Porsche, então com 75 anos, sofreu um AVC; algumas semanas depois, em 30 de janeiro de 1951, morria um dos maiores gênios da história do automobilismo, deixando um nome que dificilmente deixará de ser sinônimo de carros tão rápidos quanto bonitos.

lll FORA DAS PISTAS

Uma das menores nações do mundo e a república mais velha ainda existente, San Marino foi fundada em 3 de setembro de 301 (é isso mesmo, não faltou o número 1 ali na frente, não). San Marino é conhecida dos cabeças de gasolina por emprestar seu nome ao Grande Prêmio que aconteceu entre 1981 e 2006 no autódromo Enzo e Dino Ferrari, em Imola; isto acontecia porque já tínhamos um Grande Prêmio da Itália, em Monza. Aliás, foi em Monza que, num 03 de setembro de 1950 Nino Farina venceria o GP da Itália e se tornaria o primeiro campeão de Fórmula 1 da história, sendo até hoje o único a conseguir o título em uma corrida em seu país natal.

E foi também em 03 de setembro, no ano de 1965, que nasceu ele, the Warlock, o cara com sangue de tigre nas veias e DNA de Adonis, the winner, o Chuck Norris das substâncias entorpecentes, o único homem que consegue entrar num show sentado à frente de uma locomotiva ao som de um solo de guitarra ao vivo de Slash, o Garth Volbeck de Curtindo a Vida Adoidado e o soldado Chris Taylos de Platoon, o Charlie de Anger Management e Two and a Half Men, Carlos Irwin Estévez, universalmente conhecido como Charlie Sheen. Quando eu morrer, eu quero que a vida dele passe diante de meus olhos.

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Carlos Eduardo Valesi

Velho demais para ter a pretensão de ser levado a sério, Valesi segue a Fórmula 1 desde 1987, mas sabe que isso não significa p* nenhuma pois desde meados da década de 90 vê as corridas acompanhado pelo seu amigo Jack Daniels. Ferrarista fanático, jura (embora não acredite) que isto não influencia na sua opinião de que Schumacher foi o melhor de todos, o que obviamente já o colocou em confusão. Encontrado facilmente no Setor A de Interlagos e na sua conta no Tweeter @cevalesi, mas não vai aceitar sua solicitação nas outras redes sociais porque também não é assim tão fácil. Paga no máximo 40 mangos numa foto do Button cometendo um crime.
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