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Ferrari usa pilotos campeões para mascarar sua própria incompetência

Você se lembra quem foi o último piloto campeão pela Ferrari? Kimi Raikkonen. Mas eu vou incluir aqui mais um piloto, que não foi de fato campeão, mas lutou até o fim e por alguns segundos foi campeão mundial pela Ferrari: Felipe Massa. Mas o que esses dois pilotos têm em comum além disso? Mais duas coisas.

Kimi Raikkonen não havia conquistado nenhum título na Formula 1 antes de 2007. Felipe Massa não conquistou nenhum título na Formula 1 antes daqueles poucos segundos do GP Brasil de 2008. E também não conquistou nenhum depois, mas essa parte não vem ao caso.

E ambos pegaram o final de uma era bem estruturada e vencedora da Ferrari, a era Schumacher. Rory Byrne esteve na equipe até o final de 2004 e sendo substituído por Aldo Costa, que fez sim um trabalho de 2005 em diante, mesmo Schumacher não sendo campeão em 2005 e 2006. Ross Brawn até o final de 2006 e Jean Todt até o final de 2007. Stefano Domenicali entrou em 2008, e aproveitando o resto da era vencedora da Ferrari, quase viu Felipe Massa ser campeão, e ainda conquistou o título de construtores (óbvio, a McLaren foi desclassificada).

Mas, de 2009 em diante… Ai é a coisa desandou. Nunca mais a Ferrari conseguiu acertar a mão no carro. Todos os anos, desde 2009, o carro apresenta alguma deficiência que nunca é solucionada. Sem contar a péssima administração de Stefano Domenicali, que não era do ramo, não tinha pulso firme.

Kimi Raikkonen, o último piloto que foi campeão pela Ferrari, foi preterido para 2010. Teve seu contrato rescindido, mas pelas multas por quebra de contrato, recebeu uma bolada para não guiar outro carro na Formula 1 em 2010. E quem veio em seu lugar? Fernando Alonso, trazendo consigo o patrocínio gordo do Santander.

Foi uma decisão acertada? Pelo lado financeiro do Fernando Alonso, obviamente que foi. Mas… cadê os títulos? Fernando Alonso teve sorte, financeiramente falando, e muito azar de entrar na Ferrari justamente com essa estrutura pífia e mal administrada. Foi a época em que Fernando Alonso teve que ser mais piloto do que nunca, e eu até diria que, de uma certa forma, forçado.

Mas como assim “forçado”? Para mascarar os problemas da Ferrari, tanto no carro, quanto na estrutura, Fernando Alonso tinha que fazer a diferença no braço. Por exemplo:

– Quanto que os outros estão virando em uma volta?

– 1:20.000!

– E quanto que o nosso carro vira?

– 1:21.000!

– E quanto que o Alonso vira?

– 1:20.750!

– Então tá bom!

Eu tenho pra mim que era basicamente isso que acontecia na Ferrari. Fernando Alonso, um bicampeão mundial era capaz de fazer o carro andar. Mas o que ele poderia fazer, se os outros tinham difusor soprado, ou um Adrian Newey, ou ele encontrava um Vitaly Petrov em sua frente? No final das contas, o próprio Alonso não teve paciência de ver todo seu esforço ser em vão e saiu de lá.

E essa filosofia da Ferrari existe até hoje. Tanto que em 2014 eu li uma notícia do Arrivabene falando sobre o Sebastian Vettel que me deixou muito preocupado. A notícia, do Autoracing, é a seguite: “F1 – Ferrari: Vettel tem experiência em vencer” (clique no título para ler). Assim que eu li, imediatamente eu pensei: “Olha lá, já estão jogando a responsabilidade pro Sebastian Vettel!”. Tem como dizer que eu estava errado? O próprio Sebastian Vettel deu declarações bem desanimadas ainda nesta temporada de 2016, como após a classificação do GP da Alemanha: “Não estamos aqui para ser 5º e 6º”. Por ironia do destino terminaram a corrida também em 5º e 6º.

E a Ferrari está adorando essa filosofia. Tanto que para 2016 e para 2017, a Ferrari teve a chance de dispensar Kimi Raikkonen e contratar algum sangue novo para a equipe. Não o fez. Não estou desmerecendo o Kimi Raikkonen, mas se a Ferrari estivesse 100% satisfeita, teria dado logo um contrato de 3 ou 4 anos a ele no ano passado. Com um carro bom, e com uma equipe bem estruturada e administrada, poderia sim fazer um Valtteri Bottas, ou um Sergio Perez, ou um Nico Hulkenberg, campeões. Assim como fez com Kimi Raikkonen, e por muito pouco, não foi com Felipe Massa também.

Resumo da ópera: A Ferrari usa pilotos campeões até hoje para mascarar sua incompetência. Incompetência de fazer um carro vencedor, ou de pelo menos solucionar seus problemas durante a temporada, e incompetência em contratar pessoas do ramo para administrar a equipe.

E enquanto escrevia este texto, comecei a pensar: será que o Jules Bianchi tinha mesmo uma vaga garantida nesta Ferrari problemática e tão descrente com pilotos não campeões?

* Este texto foi escrito originamente para o site Fim Do Grid, e estamos republicando com a devida autorização do autor.

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Rubens Gomes Passos Netto

Editor chefe do Boletim do Paddock, me interessei por automobilismo cedo e ao criar este site meu compromisso foi abordar diversas categorias, resgatando a visão nerd que tanto gosto. Como amante de podcasts e audiolivros, passei a comandar o BPCast desde 2017, dando uma visão diferente e não ficando na superfície dos acontecimentos no mundo da velocidade. Nas horas vagas gosto de assistir a filmes e séries de ação, ficção científica e comédia. Atuando como advogado, também gosto de fazer análises e me aprofundar na parte técnica.

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