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Dos novos tempos da Fórmula 1 até a intolerância

lll Novos tempos

Eu confesso que fiquei surpresa com o que aconteceu na Fórmula 1 este ano. A mídia se expandindo, a ocorrência de abertura para a participação do público, as transmissões mostrando as famílias nos autódromos e a presença de crianças nas corridas. Fórmula 1 antes parecia um esporte de velho, eu muitas vezes fui questionada sobre isso, ”mas meu pai assiste, porque você gosta disso?”, fora que é um esporte extremamente machista e me surpreende que tantas meninas gostem dele.

Não por ser corrida e a gente não ter o direito de gostar, mas por muitas coisas que acontecem em transmissão e nas dependências dos autódromos e também nos grupos de automobilismo, que às vezes acabam assustando a gente e mostrando como algumas pessoas podem ser extremamente arrogantes.

lll Outubro rosa

Ver as primeiras imagens do Grande Prêmio dos Estados Unidos foi muito significativo. O apelo para a prevenção e o tratamento do câncer, sedou aquela barreira do esporte completamente ”fechado ao mundo dos homens”. Incentivar as mulheres que assistem à transmissão é importante, quando a mídia mostra que uma coisa que elas gostam, de certa forma está preocupada com o bem-estar delas, acaba aproximando. Também foi um alerta para que os parceiros incentivem as suas mulheres a se tratarem e se conhecerem, evitando que esta doença, roube mais pessoas queridas ao nosso redor. Conversar e trazer para as rodas de debates é importante para ocorra uma mudança na situação.

O pit-lane pintado de rosa, as placas, os bonés, o champanhe, o mural, os pneus, tudo rosa, por uma campanha tão grandiosa como esta, fizeram o meu coração ficar mais aquecido e confirmaram que a nova era na Fórmula 1 já começou.

lll A abertura do Grande Prêmio dos Estados Unidos

Há muito tempo a nossa tão amada competição, sonha com entrar em peso nos Estados Unidos e tornar o público americano apaixonado pelas competições de Fórmula 1, já que o fanatismo deles, gira em torno das provas realizadas em circuitos ovais.

Na intenção de chamar a atenção do público, a categoria acabou investindo em ações pré-largada e a presença de várias celebridades fez com que mais olhos fossem direcionados para a competição que ocorreu no último domingo.

Ninguém sabia se convidar Michael Buffer, um lendário locutor de lutas de boxes, para a abertura da Fórmula 1 seria uma boa ou uma péssima ideia, mas no mínimo era interessante.

“Sabemos que o Grande Prêmio F1 dos Estados Unidos é o melhor lugar para uma estrela mundialmente reconhecida como Michael, para levar o espetáculo ao próximo nível.” disse o diretor comercial da Fórmula 1, Sean Bratches.

No final das contas a abertura da corrida foi sensacional e, depois desse evento, não temos como esperar menos da categoria. A apresentação tinha clima de luta. Um vídeo era mostrado de cada um dos pilotos, focando as suas feições e os seus trejeitos, logo depois os primeiros pilotos foram apresentados em dupla e cada um, após a sua entrada, se posicionava de frente para o rival ou companheiro de equipe (dependendo do caso é assim mesmo que as coisas estão).

Os líderes do campeonato, Sebastian Vettel e Lewis Hamilton foram para o ”ringue” sozinhos, cada um na sua vez. Os vídeos deles pareciam mais expressivos, Vettel com um semblante um pouco mais carregado, mas que logo se dissolvia em um belo sorriso. Lewis por outro lado, era mostrado com correntes no pescoço, um jeito mais descolado, transparecendo quem ele realmente é. E para quem acompanha os pilotos nas redes sociais, era mais um pouco do Lewis que já estamos acostumados, mas dava a sensação de ser mostrado para o mundo.

Vettel e Hamilton foram posicionados em frente ao troféu de campeão do mundo. Quem venceria aquela batalha, até o início da prova ninguém sabia, mas o campeonato indica que Lewis Hamilton, vai alcançar o tetracampeonato este ano.

Mesmo com o ar de batalha, a abertura trazia uma certa leveza, algo que nunca havíamos presenciado. O hino nacional também foi um grande ponto da abertura, o autódromo inteiro caiu em silêncio em respeito a ele. O hino ficou por conta da voz do veterano da Marinha, Generald Wilson.

Usain Bolt ainda deu a largada para a volta de apresentação dos pilotos, correndo com a bandeira verde, mas antes disso ele já havia andando com Lewis Hamilton no circuito.

lll A Fórmula 1 quer ser um espetáculo?

Acho que unir shows e fazer uma abertura como esta, com tapete vermelho, mostrando outro lado daqueles homens que por muitas vezes, acompanhamos mais envoltos de um macacão, capacete e a bordo das suas máquinas, é fundamental.

A apresentação de ontem, lembrou a abertura das 500 milhas de Indianápolis, e eu me lembro direitinho, várias pessoas falando que os americanos sabiam fazer show e que aquilo precisava ser trazido para a Fórmula 1.

A categoria precisa que o público se aproxime para que ele sinta a necessidade de ter a F1 e não vê-la apenas como mais uma corrida de automobilismo. Porque a gente precisa da Fórmula 1 e não de qualquer outra corrida, entendem?

Conhecemos a Fórmula 1 como o topo, o ápice, o Deus, mas por que ela é assim, alguém sabe? Às vezes as pessoas apenas se distanciam do esporte, porque não sentem uma conexão como ele. Vou usar o discurso do Bono Vox, vocalista do U2, para falar da F1. Ele mesmo se perguntou antes do lançamento do último álbum que ainda vem por aí, qual a necessidade que nós fãs tínhamos de ter aquele álbum, em meio a tantos outros no mercado.

Por que a categoria precisa fazer esse tipo de espetáculo? Para se manter viva, trazer um público novo, incentivar as famílias a continuarem frequentando e apoiando. Eles vão começar a apoiar causas para trazer um significado maior para o público. Ganhar espaço e se manter vivo é o esperado.

Acredito que o público que esteve no autódromo neste Grande Prêmio dos Estados Unidos de 2017 ou assistiu ele pela TV, jamais vai se esquecer do espetáculo oferecido. A temporada deste ano será lembrada não só pelas ultrapassagens e talvez pelo tetracampeonato de Lewis Hamilton, como também pelas mudanças que ela promoveu.

lll Intolerância

Enquanto o Ex-presidente Bill Clinton estava no autódromo presenciando a grande festa, o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se preocupava em atacar alguns pilotos da Fórmula 1, dizendo que a categoria tinha um mexicano e um russo na pista, mas não via nenhum piloto americano.

Uma pena, se o presidente fosse um pouco mais informado, teria notado que a Haas é uma equipe norte americana. Além disso a Fórmula 1 passa e já passou por inúmeros países, tem pilotos de diversas nacionalidades e mesmo não tendo alguém que representa um país diretamente a corrida como qualquer esporte deveria ser um símbolo de união e não de separatismo como alguns pregam.

Ao longo dos anos tanto a Fórmula 1, quanto os outros esportes tentam diminuir as suas diferenças e abranger mais pessoas. As mulheres lutam para conseguir um espaço no esporte e outros pilotos de outras nacionalidades também se esforçam ano após ano para conseguir uma vaga e é uma pena que nem todos os recursos e nem todas as oportunidades estejam disponíveis a todo o momento, mas que sorte que o mundo e o pensamento das pessoas evoluem.

Eu vejo esse comentário como um absurdo. É como se ele quisesse semear a discórdia no povo que está aprendendo a amar a categoria como os europeus, e posso falar do povo brasileiro, ama. Ao fazer isso é como se ele incitasse que para o americano, prestigiar, acompanhar e estar dentro do autódromo ele necessariamente precisa ter um ”herói americano” presente. Gostar por gostar parece extremamente errado, se formos analisar desta forma.

Vamos amar o esporte, pelo o que ele é e pelo o que eles nos proporcionam. Ir ao autódromo e comentar sobre o automobilismo, me trouxe vários amigos e uma profissão. Antes eu acompanhava porque simplesmente gostava, mas acabei percebendo que a cada final de semana eu acabo encarando como a oportunidade de aprender uma coisa nova.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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